Há dias assim.
Ou, há "dia jassim" - se fosse de Coimbra ou do Algarve, era assim que diria, derivado do meu sotaque, como "limpa ajurêlhas", "abre ujólhos", "quére juquê?", e por aí adiante.
Há dias em que as coisas nos correm de feição, e aí tudo está bem. Outros há, em que não deviamos ter acordado, ou então que acordamos com os pés de fora da cama, que alguém tirou a senha com o nosso nome, ou que, simplesmente, podemos ficar ali a noite toda que a bola não vai entrar.
Hoje não foi um desses dias, mas podia ter sido. Na condição de ser humano, qualquer um de nós sujeita-se a ter um dia ao contrário. E é por isso que hoje vos falo sobre factos irritantes. Factos esses que, em caso de "dia não" ganham uma dimensão de irritabilidade exagerada. E alguns são verídicos, também.
Embora lá enumerar, aleatoriamente.
- Acordar às 08h00, num dia de descanso (dia de semana ou fim-de-semana), porque alguém decide cortar a relva na rua ou, mesmo até, cortar lenha para aquecer as noites de Inverno.
- Ter algo importante para fazer, acordar em cima da hora, entrar na banheira e não ter água em casa.
- Encher uma tigela com cereais e não ter leite.
- Acabar de fazer o cócó e não ter papel higiénico.
- Falar com pessoas com mau hálito e que contam segredos baixinho, perto da nossa cara. E que depois vimos a saber que eram segredos... que já sabiamos.
- Ouvir na rádio um relato de um jogo de futebol comentado por José Marinho, Joaquim Rita e João Querido Manha ao mesmo tempo.
- Perder o metro por 5 segundos porque a pessoa à nossa frente tenta enfiar o cartão na ranhura, quando basta passar por cima do sensor. À hora de ponta, não é grave. Mas torna-se muito grave quando são 01h28, e queremos apanhar o último comboio no Cais do Sodré.
- Iniciar uma conversa com um/a amigo/a e dizer "ai amigo/a..."
- O David Fonseca cantar e tentar ter uma pronúncia de inglês dos EUA.
- Ter uma conversa com alguém que pensa perceber de futebol, mas não sabe o que é um fora-de-jogo.
- Pessoas que, encontrando-se numa posição lateral à nossa, falam connosco dando pequenos toques com o cotovelo no nosso braço.
- Jogar PES e estar a ganhar 1-0 contra o computador que, no último minuto, depois de cometer uma falta a meio-campo, não assinalada, faz uma jogada de contra-ataque e empata o jogo. Ou melhor, não me deixa ganhar.
- Estar num concerto de música ao vivo, ligarmos para alguém porque sabemos que gosta da música que a banda está a tocar naquele momento, dizermos-lhe aos berros "Ouve lá!", apontarmos o telemóvel para o palco, ficarmos com o braço estendido durante 1 minuto, para depois, no final, ligarmos de novo e perguntarmos, ainda com a adrenalina do concerto: "Então, curtiste o som quando te liguei?!" - "Epá, não se percebia nada e desliguei a chamada. Mas 'tava fixe."
- A TVI só lançar novelas com nomes de músicas que foram sucessos em Portugal nos últimos 10 ou 15 anos.
- Estar no cinema, comer pipocas doces e encontrar, pelo meio, pipocas salgadas.
- e-Mails com powerpoints (ppt). Todos nós recebemos diariamente e-mails com um ppt em anexo. Uns trazem fotos de raparigas nuas em poses pornográficas, outros contêm imagens de locais paradisíacos. Mas os piores são, sem dúvida, aqueles que falam sobre o valor da amizade, acompanhados de fotos com flores, ursos fofinhos ou cães/gatos bebés. E depois, pedem para que enviemos o mesmo mail a mais 10 amigos, incluindo o que nos enviou, no espaço de 10 minutos, caso contrário teremos 10 anos de sofrimento e solidão.
- O Cláudio Ramos. Toda a gente sabe que é gay. Porque é que não assume? Não tem mal nenhum! Mas não. Insiste em dizer que faz e acontece na cama com a mulher. E que é especial. E que em todas as revistas cor-de-rosa - e eu já os vi ao vivo -, aparece sempre ao lado do gajo do Esquadrão G, que dava na SIC.
- Estar sozinho à noite a ver uma cena de suspense e silêncio inquietante de um filme de terror, quando o móvel de madeira, onde está a televisão, decide estalar. Nunca percebi porquê que os móveis de madeira estalam.
- Imaginar que vamos beber Coca-Cola e depois bebermos Ice Tea.
- Os comentários de Luis Freitas Lobo na RTP N. Para mim, um treinador frustrado. Para ele, o futebol não é um simples jogo. É uma ciência que se disputa entre duas formações que adoptam diferentes sistemas/modelos/esquemas/desenhos táticos, que praticam de forma equilibrada as quatro fases do jogo, que são fortes nas transições ofensiva e defensiva e nas basculações, eficazes nas zonas de pressão aos diferentes portadores da bola na zona de construção de jogo do adversário, e que preenchem com intensidade os espaços entre linhas.
- O Mocho dar frangos, rir-se dos frangos que acabou de dar, trocar de equipa com o guarda-redes adversário e passar a defender bem, de raiva, como se das suas defesas dependesse a sobrevivência do mundo.
E, para já, não me recordo de mais nada que me irrite quando estou em dia "não". Por isso, termino a minha intervenção pedindo aos nossos queridos leitores que nos deixem na nossa caixinha de sugestões algumas situações que consideram irritantes.
Um bom dia, e obrigado pela companhia.
Chiffon
porque o chocolate é bom e quando se mastiga faz som